terça-feira, 9 de agosto de 2011

Reflexão

É difícil, tremendamente difícil, às vezes, sabermos pegar em toda a nossa tristeza, dobrá-la em partes iguais, guardá-la dentro de nós e carregarmos o peso que ela provoca e darmos-lhe o espaço que ela ocupa.

Normalmente as pessoas acham que quando arrumamos a nossa tristeza, estamos a dizer que ela desapareceu.
Errado: estamos só a guardá-la, para não termos de olhar para ela todos os dias, para os outros não terem de olhar para ela todos os dias (quem gosta de sentir que os outros estão sempre a dar de caras com a nossa tristeza?) e para não estarmos sempre a viver consoante ela.

Mas isso nem é o mais difícil, acho eu, não sei, que ainda sei pouco sobre a vida...
O mais difícil é vivermos num único momento e termos o coração, a cabeça, os pés e as mãos, as pernas e os braços, os olhos e os dedos, divididos entre a felicidade e a tristeza.

Creio que esse pode ser o momento mais difícil de todos. Estarmos felizes e tristes, na mesma proporção, sem conseguirmos decidir que sentimento viver em modo singular.
E isto acontece. Acontece e faz-nos partir em dois.
As pessoas sentem-no, e isso é o mais difícil. O mais difícil não é estarmos só tristes ou só felizes. 
É estarmos imensamente felizes e imensamente tristes. As pessoas sentem-se dividir em partes...
Quando partem para outro lugar que acham que as fará felizes, mas não conseguem evitar ficar tristes pelo que deixam.
Quando vêem um amigo ir embora para realizar algum sonho e relembram ao mesmo tempo que acenam e sorriem, os momentos todos que viveram com ele.
Quando deixam uma família que as faz feliz para trás, para viajarem, progredirem na carreira, serem maiores e melhores.
Quando vivem sozinhas no estrangeiro para construirem a felicidade delas, mas se sentem tristes pelos quilómetros que as afastam de quem amam.
Quando abdicam de um sonho para realizarem outro.
Quando sabem que não vão ter mais o sorriso daqueles que tanto amam, nem sentir aquele cheiro, nem aquele olhar terno e que se deparam por visualizar fotografias de situações que, na altura as fizeram rir, mas que são recordações-memórias soltas-que não vão ser compartilhadas com a mesma intensidade, porque falta um elemento.
 

Isso é o mais difícil. Alternar dias, semanas, meses e anos, momentos de felicidade (quando nos lembramos que até estamos bem) e momentos de pura tristeza (quando nos lembramos do que deixámos para trás, do que poderíamos ter sido, do que poderíamos ter vivido, dos momentos na vida de quem gostamos nos quais não estivemos presentes).

O bom disto é: assim como nos vem a tristeza, vem-nos logo a seguir a alegria. É tão certo como anoitecer e amanhecer outra vez.
 
 

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